Por Vanessa Lima
A possibilidade de desabamento de uma das minas da Braskem, empresa responsável pela mineração que afetou cinco bairros de Maceió, pode provocar o aumento de sal na lagoa Mundaú, desestabilizar o meio ambiente e extinguir espécies nativas, como o sururu, uma das principais iguarias da culinária alagoana.
O alerta é da bióloga Nídia Fabré, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), especialista em ecossistemas aquáticos marinhos e continentais. Em entrevista ao g1, ela explicou que a vida no ecossistema da região das minas se dá graças ao equilíbrio entre a água doce e a água salgada, do mar, mantendo uma grande diversidade de peixes, caranguejos e moluscos.
O afundamento da mina 18, que tem parte localizada sob a lagoa e outra parte sob o continente, pode abrir uma enorme cratera. Quando isso acontecer, a água da lagoa seria escoada para dentro do buraco e entraria em contato com o sal no subsolo, o que acabaria aumento os níveis de sal na água da lagoa entorno da área afetada. Apesar de o sururu se adaptar a ambientes com variações de salinidade, ele precisa de um equilíbrio entre a água doce e a salgada.
"Com a hiper salinização prolongada da lagoa, essa espécie pode vir a ser extirpada localmente porque haverá perda de habitat, perda do equilíbrio ecossistêmico, além de mudança local do clima, devastação da paisagem e impacto socioeconômico das comunidades de pescadores e pescadoras e suas cadeias produtivas associadas", avalia a bióloga.
Desde que o alerta máximo foi emitido pela Prefeitura de Maceió, embarcações de todos os tipos foram proibidas de trafegar em um raio de 1 km de extensão na lagoa Mundaú. Consequentemente, a pesca também foi suspensa.
Segundo a Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura em Alagoas, cerca de 400 pessoas têm a pesca do sururu na lagoa como principal fonte de renda. Além do molusco, que é Patrimônio Imaterial de Alagoas, outras espécies serão afetadas com o afundamento da mina da Braskem.
Durante o verão, os peixes marinhos que suportam água salobra entram na lagoa. A variação cria uma dinâmica de entrada e saída dos peixes principalmente de importância comercial, como carapeba, camurim, tainha, curimã, pescada branca, pescada amarela, xaréus, mororó e bagres.
"A dimensão pode ser catastrófica no sentido de que estamos frente a um problema geotécnico, com a desestabilização da fratura das camadas por cima da camada de sal, a qual funciona como um cinturão protetor", alertou a especialista.
Sobre a possibilidade de recuperação da lagoa, Nídia Fabré disse que não há como precisar, mas afirmou que a lagoa pode voltar a ter vida, desde que sejam feitos investimentos futuramente, com planos integrados de recuperação ambiental.
A professora reforça que a lagoa já é um sistema que vem sendo prejudicado ambientalmente ao longo dos anos com assoreamento histórico, contaminação, com despejo de esgoto, retirada da mata ciliar, retirada dos mangues.
"Com o afundamento, a recuperação pode acontecer, mas nunca será a mesma lagoa. A restauração somente seria viável com o investimento pesado em planos integrados de recuperação ambiental", explicou a pesquisadora.
Via g1 Alagoas