A Justiça de Alagoas manteve 15 integrantes de torcidas organizadas presos por envolvimento em ataques a bomba e agressões em Maceió. Onze deles são dirigentes das torcidas Mancha Azul e Comando Alvirubro. Eles respondem por organização criminosa, associação ao tráfico de drogas e uso indevido de símbolos oficiais.
Os presos foram acusados pelo Ministério Público por levar o terror às ruas, principalmente em dias de jogos. Nos últimos dois anos, a polícia apreendeu pelo menos 50 bombas em Maceió. Três pessoas morreram nesses ataques. As bombas caseiras mutilaram duas pessoas, um cantor de latinhas e um funcionário do HGE.
"Como eles não conseguem acessar os estádios de futebol, com os artefatos, eles acabam dias antes, deixando eles escondidos nas proximidades [dos estádios]. Quando eles conseguem ter oportunidade, eles vão lá, alcançam esses artefatos que eles sabem onde previamente esconderam, para usar na guerra”, explicou o delegado Lucimério Barros Campos.
Segundo a Polícia Civil, as torcidas organizadas do CSA, Mancha Azul, e do CRB, Comando Alvirubro, se encontravam para assistir aos jogos no Estádio Rei Pelé. Dentro do estádio praticamente não havia confusão. A violência ocorria do lado de fora com qualquer pessoa que estivesse vestida com a camisa de um dos dois times.
“Aquela associação de pessoas ali, ela tinha perdido completamente a relação com o futebol, e estava tendo uma relação agora com a criminalidade", disse o delegado.
Bombas eram fabricadas nas sedes das torcidas
Segundo as investigações, nas sedes das organizadas, os falsos torcedores fabricavam as bombas. Em conversas obtidas pelo Fantástico, um deles diz: “Demorou, mas eu já estou chegando lá para tá fazendo aqui as bombas".
Segundo a polícia, no dia em que uma das vítimas foi atingida por uma das bombas, eles colocaram fotos do ferido no WhatsApp e debocharam da situação. "Vai dar em nada não", diz uma mensagem.
Intolerância fora dos estádios
No dia 4 de maio de 2023, o CSA perdeu para o Confiança em uma partida da Série C do Campeonato Brasileiro. Logo depois do jogo, o torcedor Pedro Lúcio dos Santos, conhecido como "Peu", foi atacado em um churrasquinho ao lado do estádio, segundo a polícia, por 12 homens da torcida do CRB.
Peu foi espancado com pedras, paus e barras de ferro, ele foi socorrido para o HGE, mas morreu três dias depois. Ele era pai de um goleiro das divisões de base do rival CRB. As investigações descobriram que, horas antes desse ataque, o mesmo grupo investiu contra um motoqueiro, só porque ele estava com uma camisa do CSA.
Três meses depois da morte de Peu, um torcedor do CRB foi brutalmente agredido com socos, chutes e um porrete cheio de prego. Um ano depois, ele tem dificuldade de andar e de falar.
"Não lembro de nada do que aconteceu. Eles tentaram me matar. Eu tenho um filho e não consigo mais jogar bola com ele", disse o torcedor.
Duas pessoas foram presas pela tentativa de homicídio ao torcedor, entre eles o diretor da Torcida Organizada Mancha Azul, Thiago Lyra Alves dos Santos. A defesa de Thiago, diz que ele é inocente.
Segundo o Ministério Público, existia uma organização desde a fabricação das bombas até a articulação dos ataques.
"Foi possível se chegar a essa organização. Um era encarregado pela fabricação da bomba. Outro era encarregado da compra do material para a fabricação, ai vinham os alugueis de carro [para levar as bombas], o outro mandava os ataques" disse a promotora Sandra Malta.
Em nota, a torcida organizada Comando Alvi-Rubro, do CRB, disse que não foram encontrados nenhum material ilícito na sede e que não busca a impunidade dos criminosos, mas quer um processo justo.
A torcida Mancha Azul, do CSA, também afirma que nada de ilícito foi encontrado na sede. No caso das bombas, os nove suspeitos presos não têm ligação com a entidade e que, em nenhum momento, foi procurada para esclarecer tais acusações.
Por Vanessa Lima, com g1 Alagoas